Viu o gorila?
p>Sobre 50% das pessoas que assistem a esta experiência pela primeira vez, não vêem o gorila que passa lentamente. Este resultado é impressionante porque o gorila é bastante fácil de detectar, uma vez que se sabe o que procurar. Podemos não o ver à primeira, porque a tarefa de contar os passes é taxar. Esta experiência mostra que a atenção selectiva é um componente chave na percepção consciente. Explica também porque é que, por exemplo, os condutores podem não reparar num motociclista, mesmo que apareçam na sua linha de visão.
Agora pense em possíveis variações da mesma experiência: o que teria acontecido se os participantes tivessem contado os passes entre o grupo vestindo camisas pretas? Ou se o gorila tivesse sido vermelho? Em ambos os casos, a resposta é que mais pessoas teriam notado o gorila. Concentrando-se na equipa negra, o gorila negro teria correspondido ao que os participantes procuram. Se o gorila tivesse sido vermelho, ter-se-ia destacado. Em ambos os casos, teria captado a atenção dos participantes.
A investigação cognitiva é talvez difícil de explicar porque não é aplicativa. Pelo contrário, a psicologia cognitiva é uma ‘ciência básica’: visa fazer avançar o conhecimento por si própria, para desenvolver melhores teorias sobre a mente.
Muitos de nós seguem a filosofia de falsificação de Karl Popper, em que uma boa teoria científica fornece previsões testáveis. Se as provas empíricas não suportarem a previsão, a teoria é falsificada, e deve ser rejeitada ou revista. Se duas teorias prevêem o mesmo resultado, uma previsão que diferencia as duas deve ser pensada a fim de testar o que é melhor. Com o tempo, as teorias científicas sobre cognição desenvolvem-se e tornam-se cada vez mais precisas.
Como já deve ter adivinhado, este é um processo muito lento. Como tal, a probabilidade de um único estudo ter aplicações imediatas no mundo real é bastante baixa. Contudo, isso não significa que a psicologia cognitiva não seja importante. A psicologia cognitiva fornece tanto o conhecimento teórico como os métodos que são a base da investigação cognitiva aplicativa. Por exemplo, as teorias sobre atenção podem informar a investigação sobre sinalização rodoviária eficaz, sobre interfaces homem-máquina, e mesmo sobre como formar médicos para detectar tumores em mamografias. Por vezes, o conhecimento acumulado de anos de investigação pode mudar a forma como compreendemos as nossas experiências quotidianas.
Para o melhor ou para o pior, a mente humana é infinitamente complexa, e nunca a compreenderemos totalmente. Estudar a mente será, portanto, para sempre um esforço humano importante, quer as suas implicações sejam imediatas ou não.
O Dr. Alon Zivony recebeu uma Newton International Fellowship em 2018. Ele está a realizar a sua investigação de pós-doutoramento sobre ‘Mudanças Voluntárias de Atenção’: Consequências Comportamentais e Electrofisiológicas’ em Birkbeck, Universidade de Londres.