Ray Charles fez história como um dos pioneiros da música soul. Ele apagou os limites entre a música sagrada e secular e construiu uma carreira lendária que lhe deu um passe livre para os livros de história.
Nos últimos meses da sua vida, Ray Charles nunca deixou a sua doença para levar o melhor de si. Ele continuou a trabalhar, indo ao ponto de trazer uma cama para o seu estúdio quando estava tão fraco que não conseguia ficar de pé ou sentar-se durante muito tempo.
Charles teve de cancelar uma digressão pelos EUA pela primeira vez na sua longa carreira após ter passado por uma cirurgia de substituição da anca em 2003. Contudo, enquanto estava a recuperar, outras doenças vieram à tona.
Foi-lhe diagnosticada insuficiência hepática, e embora isto não constasse de nenhuma declaração oficial, Charles disse ao seu biógrafo David Ritz que tinha ouvido os médicos pronunciar a palavra “cancro”.”
DIREITANDO OS SEUS ERRADOS
Foi Ritz, num artigo publicado na revista Rolling Stone, que deu uma visão do pensamento de Charles à medida que a sua saúde se deteriorava.
Charles foi um prodígio, mas não se contentou em jogar dentro das regras estabelecidas.
A dupla tinha-se encontrado em 1975 quando se associaram para escrever o primeiro livro de memórias de Charles. O músico fez a palestra, e Ritz teve de transformar as suas palavras numa narrativa em primeira pessoa que levasse o leitor à mente turbilhonada de um génio cego.
Ao longo dos anos, Ritz contactou Charles para uma sequela, um livro onde pudesse reflectir sobre uma vida bem vivida e talvez, falar sobre os seus arrependimentos e corrigir alguns erros. Charles recusou inicialmente, e depois chegou o diagnóstico de doença hepática.
“Estou a ficar mais forte, consigo senti-lo”, disse ele a Ritz num dos seus telefonemas, antes de fazer uma reclamação sobre Deus e Jesus, e a sua relação com a fé.
Para Charles, era também importante dar crédito onde o crédito era devido. Ele queria que as pessoas soubessem que, apesar de ele ter juntado duas coisas que nunca tinham sido misturadas antes, Soul não era exclusivamente a sua invenção, como ele disse:
“Dar crédito aos cantores da igreja e aos músicos de blues a quem o recebi. Já tenho crédito suficiente. Que as pessoas saibam que não veio de mim.”
Charles também pediu desculpa por magoar os músicos com a sua personalidade de cabeça dura. Ele queria que eles soubessem que “o irmão Ray os ama””
MORTE DO Ray CHARLES
Nas últimas semanas, ele começou a usar uma cadeira de rodas. A sua última aparição pública foi fora do seu estúdio no West Washington Boulevard em Los Angeles, que a cidade reconheceu como um marco histórico.
“Estou fraco, mas estou a ficar mais forte”, disse ele ao público no evento. Seis semanas depois, a 10 de Junho de 2004, morreu na sua casa em Beverly Hills aos 73 anos de idade.
Dois meses depois, a sua editora lançou o seu último projecto musical, “Genius Loves Company”, uma compilação de duetos com alguns dos famosos fãs de Charles, incluindo Elton John, Willie Nelson, B.B. King, e Norah Jones entre outros.
Uma VIDA BEM-VIVIDA
Uma nativa de Albany, Geórgia, Charles mostrou o seu interesse pela música desde muito jovem. Começou a aprender a tocar aos 3 anos de idade, e no ano seguinte, começou a perder a visão.
Em três anos, tinha ficado cego, mas isso não impediu o músico ambicioso de perseguir o seu sonho.
Estudou música clássica, aprendeu a ler em braille, e tocou piano, clarinete, trompete, e outros instrumentos na Escola para Surdos e Cegos de Santo Agostinho.
Então, aos 15 anos, a vida de Carlos foi virada de pernas para o ar quando a sua mãe sofreu uma morte súbita. Sozinho no mundo, abandonou a escola e mudou-se para Seattle, onde começou a tocar em clubes locais e outros locais.
Charles era um prodígio, mas não se contentava em tocar dentro das regras estabelecidas. Foi quando começou a acrescentar letras azuis à música gospel, algo que “algumas pessoas disseram que era sacrílego”, segundo Charles.
Charles criou um novo género, soul, mas nunca permaneceu dentro dos limites do mesmo. Ao longo da sua carreira, Charles também fez experiências com jazz, country, pop e rock, que fizeram da sua base de fãs uma mistura diferente de indivíduos.